segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O grito mudo do nosso Rio Itiquira

Foi com muita tristeza e perplexidade que assisti as imagens do Rio Itiquira na contramão da vida, agonizando no Pantanal Mato-grossense. Em cobertura impecável, os colegas jornalistas da TV Cidade Record, do Programa Cidade Agora, tentavam desesperadamente compreender qual o motivo de tamanha crueldade com a natureza, nosso bem mais precioso.
Caro Valdemir Costa, foi comovente ouvir seu desabafo e as expressões de dor de Jota Lima e dos entrevistados, mas, infelizmente e, com muito pesar, constatamos que houve três crimes hediondos com o nosso rio. Tudo que restou daquele patrimônio natural de rara beleza foi um sussurro, um grito mudo agonizante. O Rio Itiquira foi sequestrado, esfaqueado e envenenado pelo rolo compressor capitalista, entenda-se a ambição humana.
Poluição, desmatamento das margens, o concreto duro e frio das barragens, assoreamento, uso criminoso e indevido dos recursos naturais parecem ter sido as principais causas pré-falecimento do nosso Rio Itiquira. Mas, você tem toda razão, amigo Valdemir Costa, os principais motivos da destruição de nosso principal patrimônio natural foram mesmo o egoísmo, o materialismo, a falta de cuidado e de respeito para com um dos filhos da Mãe Natureza, chamado Rio Itiquira.
É sabido que o custo social da industrialização acrescido do desenvolvimento clássico das atividades empresariais tem submetido o planeta, nas últimas décadas, a um desgaste preocupante. Tendências e ações nos apontam para mudanças em direção a uma maior consciência ambiental e a promoção do desenvolvimento global em bases sustentáveis. Parece óbvio, mas somente a adoção de novas formas de viver e estar no mundo, conscientes de sua finitude, bem como a utilização harmônica dos recursos naturais pelas comunidades atuais será capaz de impedir os impactos negativos no meio ambiente.
Infelizmente, o Rio Itiquira está agonizando em consequência da obstrução das vias respiratórias – falta de ar. Tiraram todo seu oxigênio e transformaram em descaso e lucro. Você me pergunta se é justo um grupo financeiro destruir um bem público e coletivo? Sinceramente, nobre colega, não saberia responder. Talvez, sim. Possivelmente a resposta mais adequada seja esta, porque, nós, a maioria que tem a força e o poder abre mão de tudo e entrega o controle de nossa casa, dos nossos bens mais preciosos e da vida do nosso ecossistema nas mãos dos outros. Por comodidade, delegamos nossas responsabilidades e ações a terceiros que não estão preocupados com o bem-estar coletivo.
Poucas vezes vi pessoas como você com coragem para bravejar e enfiar o dedo na ferida, mesmo constatando que se está sozinho em meio a uma multidão de inertes. Somente um apresentador tão brilhante e sensível como você para admitir: “Nós sentenciamos a morte da Floresta Amazônica”. Estamos também decretando e assinando o atestado de óbito do nosso Rio Itiquira. O grito mudo do nosso Rio Itiquira é mais do que um pedido de socorro, corresponde a um alerta de que a vida ao redor está se esvaindo. Em tempo: não esquecendo que estamos todos no mesmo barco. Morremos todos os dias um pouco mais.

Fonte:  EDILEUSA REGINA PENA DA SILVA é jornalista e professora Adjunto I da UFMT, em Rondonópolis – edileusapena@hotmail.com

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