quarta-feira, 7 de outubro de 2015

DEUS NOS FALA


Evangelho de Marcos 10, 2-16

“Chegaram os fariseus e perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher. Ele respondeu-lhes: "Que vos ordenou Moisés?" Eles responderam: "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher." Continuou Jesus: "Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei; mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu." Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto. E ele disse-lhes: "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério." Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam. Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: ‘Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará.’”

O evangelista Marcos nos ajuda a compreender melhor o Mestre, indicando-nos, de maneira bem evidente, que Ele está indo para Jerusalém onde será crucificado. É durante esse percurso que se confronta, constantemente, com seus opositores, os escribas, doutoreis da lei e fariseus, e ensina, sobretudo aos seus discípulos, que a sua missão passa pelo calvário, incompreensível para eles e pra todos. Portanto, é um ensino difícil e sem distrações. Consciente. E, nesse caso, qual foi a lição? Perante a pergunta dos fariseus em tentar colocá-lo à prova, se era permitido ao marido repudiar sua esposa, Jesus não teve dúvidas em contrariá-los, porque esta concepção de vida bem machista não permitia a igualdade nem a fraternidade que tanto Deus quis. Para isso, ele resgata a sua resposta no Antigo Testamento, do livro do Gênesis, no momento da criação, pondo-o em contraste com o Deuteronômio. Com isso, significa que, realmente, a Bíblia toda é Palavra de Deus, mas precisa saber interpretar os textos. De fato, Jesus mostra a diferença, nesse caso, para os fariseus entre o Deuteronômio e o Gênesis sobre a interpretação do casamento. Em Gênesis, revela a intenção profunda de Deus e, no entanto, no

Deuteronômio, paga-se um tributo à dureza do coração dos homens. Assim sendo, Jesus, refazendo-se ao projeto inicial de Deus Pai, tira o poder ao marido de divorciar, e estabelece o principio da igualdade. Para o Mestre, o matrimônio deve seguir a Sagrada Aliança, isto é, uma fidelidade total. Uma fidelidade igual à de Jesus que foi fiel à sua missão até a cruz. Portanto, o matrimônio é uma entrega total, sem fingimentos, que leva a imitar o amor de Cristo, como caminho de salvação. Para melhor compreender tudo isso, o matrimônio, e nesse sentido o celibato, deve estar ao serviço do Reino de Deus. Somente assim se pode explicar um verdadeiro amor, e não confundi-lo com o egoísmo pessoal, que tanto prejudica o ser humano. Vivendo essas condições se restabelece uma relação entre os dois de fraternidade e de igualdade. Ninguém, desse jeito, tem mais a posse do outro. É outra vida, sem mandões. E, finalizando o evangelho de hoje, Jesus contraria até os discípulos acolhendo as crianças. Por que os discípulos não queriam que as crianças chegassem ao Mestre? Naturalmente, se tinham crianças bem pequenas, tinham também as mães. E naquele tempo elas viviam em uma situação de impureza legal. Com isso, se Jesus as tocava, se tornava impuro. Provavelmente, os discípulos queriam preservá-lo dessa situação. Qual foi a reação de Jesus? Jesus não tem medo de transgredir as regras para defender a pessoa e, ao mesmo tempo, promover a fraternidade, projeto de Deus. Por isso, Ele não somente acolhe, mas também as abraça. Concluindo, Ele nos mostra que, como uma criança precisa tudo dos pais e se deixa amar, assim nós também precisamos nos deixar amar por Deus, porque é Ele que nos conduz. Uma lógica de amor e não de poder. Desse jeito, aquele que pratica o amor servindo os outros, os últimos, incomoda e perturba aqueles que vivem segurando-se aos privilégios do poder.

Fonte: Claudio Pighin - Sacerdote - Doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação.

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