domingo, 19 de julho de 2015

FASCINADOS PELO PERIGO

Três, quatro e até cinco motocicletas dentro de um esfera metálica... apoteose nos espetáculos de circo, o Globo da Morte ainda é capaz de causar calafrio nas plateias. 

Você tem medo da morte? "É claro que eu tenho. Quem não tem? A resposta do jovem Fernando Rodrigues, de 20 anos, tão direta quanto a pergunta feita a ele durante entrevista ao Diário, surpreende aqueles que presenciam a forma como ganha a vida desde a infância.

Artista circense, Fernando desafia a morte todas as noites.Sobre ma motociclista em movimento, ele divide o pequeno espaço de uma esfera metálica com outros parceiros de circo.

A plateia não tira os olhos do picadeiro, acompanhando com uma atenção quase silenciosa às evoluções do Globo da Morte, a principal atração do Internacional Circo Kroner, em cartaz  há duas semanas em Rio Preto.

Se a morte lhe causa medo, por que, então, desafiá-la pilotando uma moto dentro de uma gaiola de metal com dois, três, quatro ou até cinco globistas?

"Eu gosto muito da adrenalina, do perigo. Mas é claro que eu faço isso com consciência, usando todas as proteções necessárias", declara Fernandes, que pratica o Globo da Morte desde os 13 anos, além de trabalhar como palhaço, malabarista e trapezista.

No trapézio, o artista conta com a segurança de uma rede de proteção, que impede do impacto com o solo em caso de alguma queda. Mas, dentro do globo, o risco é iminente, pois o deslize de um pode prejudicar todos, colocando em xeque a evolução artística.

Sintonia e confiança
"Globo da Morte exige sintonia entre os globistas. Eu tenho de estar atento não só para a minha evolução, mas para a de todos os meus parceiros de cena. Dificilmente o erro de um globista não prejudicaria todos os outros", comenta o argentino Emanuel Coronel, 20, que pratica o Globo da Morte há seis anos e viaja pela primeira vez com o Kroner em turnê pelo Brasil.

Nascido numa família circense, o argentino já dividiu o Globo da Morte com a mãe - uma das pessoas que lhe ensinaram o ofício - e a irmã de apenas 8 anos. "Quando via a minha mãe em cena, eu ficava encantado. Era um sonho poder dominar uma moto dentro do globo", conta o jovem artista.

Ao sair do globo após a apresentação na noite de quinta-feira, a tranquilidade de Coronel era tamanha que parecia que ele tinha acabado de deixar a sua casa.

"E não tenho medo. Tenho é paixão.É algo difícil de explicar, mas que me renova a cada noite de apresentação. O Globo da Morte é a minha casa", diz ele.

Conforme Fernandes, os tombos são inevitáveis durante os ensaios, principalmente quando os globistas vão preparar uma nova evolução pra apresentar no picadeiro. No entanto, os prejuízos físicos não são tão grandes, porque eles dominam a técnica. "A aceleração tem que ser a mesma para todos. É uma arte que exige sintonia e confiança no parceiro de cena", reforça.

É algo que está no DNA do artista
Gerente do Internacional Circo Kronner, Welligton Gregório Nogueira de 52 anos, atuou por mais de duas décadas como globista.

Com experiência de sobra na arte de desafiar o perigo, ele da sua receita de sucesso no Globo da Morte. "O globo não permite vaidade, ego inflado. O globista tem que ser humilde e não querer brilhar mais que os outros parceiros de cena", diz ele, que, apesar da atuação como globista, nunca pilotou uma motocicleta nas ruas.

Nogueira acumula experiências inusitadas ao longo de sua carreira. Nos anos 1990, ele apresentou-se no Globo da Morte em plena Marquês de Sapucaí, como destaque da escola Mocidade Independente de Padre Miguel, que prestou homenagem a Beto Carrero. "Eu integrava a equipe de globistas do circo do Beto Carrero. Foi uma experiência inesquecível. Foi a única vez que apresentei com o Globo da Morte em movimento", conta.

Em uma das edições do festival Planeta Atlantida, realizado no sul do País, Nogueira apresentou-se nas alturas. "Um Globo da Morte foi colocado sobre a plateia, a uns 10 metros de altura. Enquanto rolavam os shows, a gente realizada evoluções dentro do globo."

A carreira como globista foi interrompida após uma apresentação em um cassino de Las Vegas. "Eram seis globistas em cena. Sofremos um acidente durante a apresentação, que me rendeu um afundamento de cranio", recorda.

Segundo ele, apesar de existirem escolas de circo no País,  a arte do Globo é um legado familiar, compartilhado entre as gerações. "O contato começa ainda na infância, sempre por influência dos pais ou de algum familiar que já pratica o Globo da Morte. É algo que faz parte do DNA do artista", enfatiza.

Fonte: Harlen  Felix - Jornal Diário da Região / São José do Rio Preto - (postado na mesma cidade)





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