segunda-feira, 18 de maio de 2015

O clube do eu sozinho

Sozinho
Sem papo furado.
 Desde que tive idade para ir ao colégio sozinho e, consequentemente, ao Maracanã, minha mãe começou a repetir a mesma frase: “Não fale com estranhos e cuidado com pessoas sozinhas.” E assim prosseguiu, quando eu ia à praia, ao cinema, aos bares. Acho que se estivesse viva, continuaria a dizer a mesma coisa. O que ela não sabia é que escolhi fazer muitas dessas atividades desacompanhado não por falta de opção, mas em 99% dos casos por gosto. Faço minhas observações mentais, chego em casa, escrevo, sem ter a obrigação de dividir minha opinião sobre o jogo de futebol com ninguém, nem ter a obrigação de comentar se a cerveja está gelada ou se o filme é mesmo bom. Não, não é uma doença. É uma característica que deveria ser respeitada, especialmente pelos garçons.
A opção pela solidão é pessoal. Nos dias de hoje, com o avanço das comunicações pela internet, existe essa sensação de que estamos conectados uns aos outros o tempo inteiro. As fotos nas redes costumam mostrar as pessoas em bando compartilhando o churrasco, o bar, a praia, a festa. Não se vê ninguém num sábado à noite numa imagem com a legenda: “Curtindo a night, na minha”. Acredito que a presença de um indivíduo sozinho continua a causar o mesmo estranhamento que produzia na minha mãe, principalmente se ele estiver numa fila de cinema ou de teatro. Outro dia, um amigo me perguntou como consigo estar sempre bronzeado. Respondi com calma que ia à praia sozinho. Ele me olhou como se eu estivesse completamente maluco. Não consigo compreender o problema. Observo as pessoas. Leio um jornal ou um livro. Tomo uma cerveja e vou embora.
Não se trata de buscar o isolamento, no meu caso. Adoro estar com minhas filhas. Também gosto de rir, de falar bobagens, de falar alto. Mas também gosto de saborear meu sorvete sem dizer nada, à minha maneira. Rio sozinho. Chego a conclusões. Formo minha opinião sem incomodar e sem ser incomodado. Não, não chego ao ponto de fazer perguntas e respondê-las em voz alta. Isso sim seria um problema.
Às vezes passo até por mal-educado, principalmente quando pego um taxi e não demonstro interesse em comentar política ou futebol, dois assuntos que adoro mas que, neste momento, me dão asco.
Não vamos estender demais essa conversa. Para quem não sente o mesmo prazer em estar apenas com a própria companhia, tudo isso pode parecer mesmo conversa de maluco. Encerro com um incidente recente. Enquanto eu tomava água de coco num quiosque da orla, uma senhora me pediu informações. Respondi com educação. Enquanto se afastava, ouvi que comentava com uma amiga: “Nossa! Tão educado e tão sozinho. Deve ter algum problema.”
Problema nenhum, minha senhora. Mas minha mãe provavelmente lhe daria razão.
Fonte: Mauro Giorgio - Blog Tudosobretudo.


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