domingo, 19 de abril de 2015

Gás total

Brasileira Condor, fabricante de armas "não letais", prevê salto nas exportações e defende negócios com regimes autoritários

Menino com bomba de gás lacrimogêno da Condor
disparada pela polícia turca na fronteira com
a Síria, em 2012
Num cenário desanimador para os exportadores brasileiros, a Condor não tem do que reclamar. A fábrica de gás lacrimogênio e outras armas "não letais", sediada em Nova Iguaçu (RJ),acaba de abrir escritórios em Cingapura e Abu Dhabi (Emirados Árabes), antecipando alta demanda e novos mercados.

Em 2015, a empresa espera crescer entre  5% e 10%, já prevendo o aumento da insatisfação social no Brasil e em diversas partes do mundo.

Nas exportações, o salto previsto é de astronômicos 70%. "Em 2015 a empresa é uma das brasileiras com maior presença. Seus clientes são forças de paz da ONU, mas também países conhecidos por desrespeitar direitos humanos como Angola, Arábia Saudita, Turquia e Azerbaijão.

Em junho de 2013, as bombas de gás jogadas pelo governo turco em manifestantes contra o fechamento de um parque, que depois se transformaram numa onda de protestos semelhantes à ocorrida no Brasil na mesma época, ram da Condor.

A empresa exporta para 45 países, com novos negócios surgindo. Nesta semana, seu stand na LAAD (feira de produtos de defesa, no Rio), recebeu diversas delegações de interessados.

MAIS DITADURAS
O sucesso é em parte atribuído à imagem do Brasil de páis neutro, diz a empresa. "Os americanos são imprevisíveis, mudam as regras o tempo todo, vivem criando exigências", afirma Amorim.

O próximo mercado a ser aberto deve ser o Irã, que será liberado das sanções internacionais se for concluídas um acordo nuclear.  Vender para regime repressores é um desejo admitodo abertamente na Condor.

"É melhor que as ditaduras comprem nossos produtos. Se você tira as armas não letais, o que sobra são as letais. O resultado são 200 mil mortes na guerra síria", afirma Carlos Aguiar, presidente do Conselho.

Ele lamenta, por exemplo a proibição internacional de venda para a Coreia do Norte, talvez o regime mais repressor do planeta. A Condor não é empresa de capital aberto, portanto não diz quanto fatura.

Segundo critério do Ministério do Desenvolvimento, foi enquadrada na faixa de empresas que exportaram entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões em 2014.

Além do gás lacrimogêneo, vedete da campanhia, o catálogo inclui balas de borracha, bombas de efeito moral e a Spark ("faísca"), uma nova arma de choque elétrico definida pelo diretor como "nossa nova menina dos olhos".

Exportações de armas precisam ser certificadas pelo Itamaraty e Ministério da Defesa, mas nem sempre é possível controlar uso e destino.

No ano passado, os produtos da Condor foram encontrados na Costa do Marfim, que estava sob embargo de armas. Vieram  da vizinha Burkina Fasso, clientes da empresa.

O conceito de "arma não letal", apregoado pela Condor, é questionado por entidades de direitos humanos, que as chamam de "menos letais". Citam como exemplo a repressão à Primavera Árabe no Bahrein em 2011, em que um bebê morreu por contato com gás da Condor.

"Essas amas podem causar ferimentos graves e até a morte. É preocupante a falta de controle e regulamentação do Estado brasileiro sobre seu uso e comercialização tanto aqui como para exportação", diz Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas Direitos Humanos.

Para a empresa, a solução é investir na formação dos que usam seus produtos. "Qualquer coisa pode matar se mal utilizada, até essa caneta Bic na sua mão", diz o diretor-superintendente.

Fonte: Fábio Zanini - Editor de "Mundo" - Folha de São Paulo
(postado em São Paulo / SP)








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