domingo, 1 de março de 2015

LIDERANÇAS NECESSÁRIAS

Movimentos sociais organizados em centros urbanos são frutos do processo da revolução industrial. No final do século 18 iniciou-se uma mudança no modo de produção com o advento das “fabricas”. Para que produzissem o necessário para o consumo interno e para exportar para o mundo colonial elas se organizaram umas próximas das outras, e a produção foi dividida entre os primeiros operários, ex- artesãos. Isto aconteceu ao meio de um êxodo rural e o inchaço das cidades inglesas. Os nobres cercaram suas terras para criar carneiros e ganhar dinheiro com a lã. Os camponeses tinham duas opções, ou viver ao longo das estradas ou ir para as cidades e vender a sua mão de obra por um preço vil. Para agravar ainda mais a situação, os industriais incentivaram o desenvolvimento de máquinas que substituíam os artesãos. Com isso ganhavam em produtividade e em estoque para a exportação. Um novo tear automático significava demitir os miseráveis que trabalhavam nas fábricas fétidas. O operário Lud liderou um movimento contra essa situação. Ele e seus seguidores elegeram como grandes vilões de sua infelicidade as máquinas. Passaram a atacar as fábricas e destruí-las. Mesmo organizados não conseguiram impedir o processo de mecanização. No dizer do historiador Hobsbaum  "era uma mera técnica de sindicalismo de operários no período que precedeu a revolução industrial e as suas primeiras fases operárias".
Já no século 19 os operários ingleses lutavam por outras conquistas sociais. Exigiam a participação na condução da vida social, política e econômica do país. O movimento foi liderado pela Associação dos Operários de Londres. Longe de ser uma organização revolucionária, relacionaram uma série de reivindicações como o voto universal masculino, secreto e em cédula. Eleições anuais com a participação no parlamento. Igualdade  eleitoral com a nobreza e a burguesia, entre outras reivindicações. A Associação listou tudo em uma Carta, e os cartistas se organizaram para pressionar o parlamento.  Houve grossa pancadaria nas ruas de Londres e o exército inglês foi chamado para combater os insurgentes. Depois de muito sangue derramado as propostas foram sendo uma a uma gradativamente aceitas pelo parlamento. Diante disso o interlocutor, a Associação dos Operários, desapareceu. Outras apareceram sob a forma de sindicatos.
 O Estado precisa identificar na sociedade os interlocutores do desejo de parte da população. Sejam associações, sindicatos, centrais sindicais, partidos políticos ou líderes sociais. Sem esses atores para promover uma negociação há sério risco de conflito social, que se sabe como começa e não se sabe como termina. Movimentos sem lideranças conhecidas ou organizadas são sintomas que a população não acredita mais nem nos representantes no Congresso, nem nos sindicatos,  nem nas associações que poderiam representa-los. Em alguns casos recentes o Estado foi tomado de surpresa, e reagiu com a violência e os tumultos se espalharam. Manifestantes contam hoje com a comunicação das redes sociais, os panfletos eletrônicos que são emitidos e compartilhados aos milhões. Os exemplos mais atuais foram os protestos nas ruas de São Paulo, as manifestações contra a Copa do Mundo,  os bloqueios de estradas pelos caminhoneiros e os quebra-quebras quando o transporte público não funciona.
Fonte: Heródoto Barbeiro - Record News



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