segunda-feira, 23 de março de 2015

DEUS NOS FALA

Evangelho de João 12, 20-33

O evangelho de hoje inicia dizendo: “Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. Estes se aproximaram de Filipe (aquele de Betsaida da Galileia) e rogaram-lhe: Senhor, quiséramos ver Jesus.” Portanto, alguns gregos não pertencentes a Israel vão para o culto no templo de Jerusalém. Aqui está a novidade do evangelho, antecipando os novos tempos, no lugar de prosseguir para o grande templo, eles buscam Jesus. São esses estrangeiros que reconhecem em Jesus o novo templo, a verdadeira experiência de Deus.

Esse novo templo é destinado para todos, além do próprio Israel. Quanta dificuldade e incompreensão naquele tempo por parte dos judeus em reconhecer que Deus é de todos e não exclusividade de nenhum povo. Isto acontece ainda hoje, no nosso meio, o ciúme em classificar as pessoas: as tementes a Deus e as pecadoras; os puros e os impuros; os que são da Igreja e os afastados, e assim por diante. O ser humano gostaria de ser dono até de Deus, projetando nele todos os próprios anseios e aspirações. Dessa forma, ele separa e não une, ao contrário do Deus de Jesus.

O evangelista nos mostra que Jesus veio para libertar também as pessoas que não pertencem a Israel. Os gregos, para puder chegar a Jesus, pedem ajuda a uns discípulos do Mestre. Interessante essa colocação que revela a aproximação de Jesus e que passa por uma mediação dos discípulos. Isto significa, em primeiro lugar, que a tarefa dos discípulos é conduzir as pessoas para Jesus, isto é, para Deus; em segundo lugar, que as pessoas precisam sempre confiar em uma mediação, que seja comunitária ou individual, para fazer o encontro com Deus.

Por isso, continua a Palavra de Deus, “Filipe foi e falou com André. Então, André e Filipe o disseram ao Senhor.” Respondeu-lhes Jesus: “É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto.” Uma resposta muito dura, difícil de se entender e com certeza os estrangeiros, entre aspas, ficaram sem palavras. Outra coisa importante para ressaltar sobre o verbo ‘ver’, em João, quer dizer que os gregos querem conhecê-lo.
Prontamente, o Mestre responde que o conhecerão através da morte. É nela que se manifestará Deus. É na cruz que se revela o quanto

Deus ama as pessoas, independentemente daquilo que são e das suas condutas. É nesta experiência crucial da cruz que compreenderão o verdadeiro Deus que ama todo mundo, sem reserva. Falando da própria morte, Jesus usa a comparação do grão de trigo que produz frutos. Assim sendo, a morte não é o fim, mas uma explosão de vida; justamente como um grão de trigo que apodrece para grelar e dar frutos.

A morte se torna uma mediação de vida divina. Torna-se evidente que essa morte não acaba com a pessoa, pelo contrário, dá-lhe perspectivas de vida em plenitude. Perante essa consideração, podemos dizer que o momento tão horrível da morte é uma libertação do ser humano de todas as suas energias e potencialidades que guardava em si para se transformar em vida para sempre. É o ensino e o testemunho de Jesus Cristo: morte, explosão de vida. E continua Jesus para entender esse seu ensino: “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.”

Portanto, o nosso Mestre nos alerta que quem vive no seu egoismo não poderá compreender a verdadeira vida e se perderá nos meandros da vida materialística, limitada. A plenitude da vida é encaminhada pela caridade e fraternidade. E isto acontece imitando, seguindo o Mestre até o fim, que é a cruz: “Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.”

Fonte: Claudio Pighin -  Sacerdote, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação


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