quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PARA QUE SERVEM AS DATAS?

Um historiador não sabe todas as datas da história. Parece incoerência, mas alguém  sábio já disse que o historiador não é um calendário. Um bom historiador, sim, precisa ter uma boa e ampla visão cronológica, mas seu trabalho não para por aí. Sua função social é "fazer pensar", é tentar entender porque alguns fatos tornaram-se História e outros não. Por exemplo, você já reparou como há poucos acontecimentos envolvendo negros e índios em nossa história? parece que eles são lembrados, apenas, para justificar as ações dos colonizadores: no descobrimento do novo mundo ou na sociedade escravista. No mais, eles desaparecem. São tragados pela história. Por que?

Falando em datas, está ai uma data que merece reflexão: 20 de novembro. Por muito tempo, o 13 de maio de 1888 foi uma data importante para a historia dos negros no Brasil. Em suma, foi quando a princesa Isabel - na ausência de seu pai, que estava em tratamento de saúde na França - libertou-os da escravatura. Uma versão glamourosa e romântica de uma elite que se considerava responsável por qualquer progresso. Ainda bem que o poeta negro, Oliveira Silveira (1941-2009), junto com o coletivo Grupo Palmares, nos ajudou a repensar esta história. Será que os negros não tiveram participação em sua libertação? Será que foram passivos enquanto viveram no cativeiro?

Uma pesquisa séria, realizada pela historiadora. Hebe Mattos, da UFF, constatou que 95% dos escravos já estavam libertos em 1888. Ou seja, houve protagonismo, houve luta, houve esforço para que suas liberdades fossem adquiridas. Não foi um concessão da nobre princesa, foi um conquista dos escravos. Por isso, o povo negro não se identifica com o 13 de maio de 1888. Há luta nisso? Não. Identifica-se, sim, com o 20 de novembro de 1695, possível norte do Zumbi dos Palmares. Para que servem as datas? Não apenas para serem comemoradas. datas também são marcadas de lutas sociais. Talvez uma pergunta mais adequada seja: a quem servem as datas?

Fonte: Jônatas Marques Caratti - Professor e Historiador / Jornal O Estadão do Norte


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