segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Os donos do Brasil em cana. E depois?

"O universo está derretendo", disse um deputado do PMDB após a operação da Polícia Federal, no último dia 14. O dramalhão é justificado. A operação prendeu mais de 20 executivos e envolveu nove das maiores empreiteiras do país. Quatrro delas - Camargo Correia, UTC, OAS e Ies - tiveram os próprios presidentes presos. A casa caiu!

Não nos iludamos porém. Não é a primeira vez que os donos do Brasil são expostos a nu nos últimos anos. O banqueiro Daniel Dantas foi preso em 2008 após a Operação Satiagraha. Executivos da reincidente Camargo Correia também foram presos em 2009 pela Operação Castelo de Areia. E a Delta Construtora foi desmascarada em operações de 2012 e 2013.

Os resultados após as primeiras foram um tanto desanimadores.  Dias depois, a turma foi invariavelmente solta. As empresas continuaram com seus negócios, inclusive com seus contratos com o poder público. Em alguns casos, chegou-e ao extremo de os acusadores tornaram-ser réus, como o delegado Protogenes Queiroz e o juiz Fausto de Sanctis, ambos da Satiagraha.

Ser honesto é algo perigoso, já disseram certa vez. Mexer com os donos do Brasil não é coisa que se faça impunemente. Os tentáculos dos grandes grupos econômicos no governo, no Congresso, no Judiciário e na mídia não devem ser subestimados. Isso nos autoriza a um certo ceticismo em relação ao que virá.

De toda forma, o escândalo atual, envolvendo contratos bilionários com a Petrobras, tem circunstâncias muito particulares. A operação foi desencadeada num momento de grande polarização política e tem evidentes intenções de colocar em xeque a legitimidade do governo Dilma.

Delegados envolvidos na operação foram flagrados nas redes sociais exaltando Aécio Neves e proferindo ataques a Dilma e Lula. O escândalo tem sido o principal combustível do PSDB e dos golpistas dos Jardins em seus desfiles de sábado á tarde na avenida Paulista

A posição do PSDB no caso é uma grotesca hipocrisia . O senador Aloysio Nunes deu as caras no chá das cinco da Paulista e bradou altivo contra a corrupção. Faltou alguém que subisse ao carro de som para lembrá-lo que sua campanha ao Senado recebeu mais de R$ 1 milhão em doações diretas de quatro das empreiteiras envolvidas no escândalo: UTC, Mendes Jr., OAS e Camargo Correia. Peroba nele!

A campanha presidencial de Aécio, por sua vez, recebeu cerca de R$ 20 milhões de seis das nove empreiteiras envolvidas. Assim como o PT e todos os outros partidos de sua base receberam. Quatro dessas empresas estão entre as dez maiores doadoras eleitorais de 2014. Digno foi a nota, o PSOL foi o único partido com parlamentares eleitos que não recebeu doação da quadrilha da vez.

Lamentável também foi a declaração de Dilma de que  não devemos "demonizar as empreiteiras", Ora, coitadinhas! Essas pobres empreiteiras, sempre injustiçadas neste  país, não é mesmo?

Se queremos tirar uma consequência prática deste escândalo, se queremos deixar de enxugar gelo com operações de Sísifo, temos que dar nome a solução ao problema.

O nome do problema é o sistema político brasileiro e seu estímulo à apropriação de fatias do Estado pelos grandes interesses econômicos através do financiamento de campanha. A forma de enfrentá-los efetivamente chama-se reforma política.

As nove empreiteiras investigadas, envolvidas em três megaprojetos da Petrobras, somaram mais de R$ 207 milhões em doações eleitorais neste ano. E não vem de hoje. O esquema da Petrobras opera há pelo menos 15 anos, segundo o Ministério Público Federal.

Até mentecaptos como o Lobão e as madames do chá das cinco sabem como as coisas funcionam. Doações de campanhas abrem as portas para favorecimento em contratos - especialmente nas estatais, que conseguem escapar de licitações - e, em seguida, para aditivos. Esta tem sido a gramática de quase todos os escândalos de corrupção por aqui nos últimos 30 anos.

Assim os donos do Brasil mantêm seu poder. Dar fim ao financiamento privado das campanhas eleitorais é a primeira e mais óbvia medida para interromper o ciclo. Evidentemente, não acabará com a corrupção, mas diminuirá a margem da captura do Estado pelos grandes interesses privados.

A hora é esta. A prisão dos empreiteiros e  de diretores da Petrobras coloca na ordem do dia a necessidade de uma reforma política profunda no país.

Vejamos agora quem tem compromisso com a coerência. Indignar-se com a corrupção, muito bem. Vamos então defender uma reforma política, com ampla participação popular. Quem vem?

Fonte: OPINIÃO -  Autor: Guilherme Boulos / Jornal Alto Madeira


Resumindo então: Ninguém presta neste país. Eles, todos os políticos, dos donos do poder. Independentemente de partidos. Todos, mas todos mesmos, repito: NINGUÉM PRESTA.






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